NOSSO MANIFESTO
São Paulo. Maior cidade das Américas.
Seu crescimento veloz cortou ruas, soterrou rios e abriu avenidas.
Conhecida por sempre ter pressa, São Paulo nunca esperou por ninguém para crescer.
E apesar de gigante, nela ainda não cabem todos. Seu território, apesar de tão vasto, sempre foi pequeno para muitos.
Ao longo dos tempos, nessa terra de contradições, a violência e a injustiça atingiram justamente quem te nutre, te ama, trabalha e cuida de você, São Paulo. Seu solo é marcado por essas histórias, e em baixo dele ainda vivem nossas memórias.
Os indígenas, primeiros cuidadores dessa terra, podem nos contar sobre essa violência.
A população negra que ergueu a cidade e a nossa cultura também conhece essa história.
A migração nordestina impulsionou a economia da metrópole…
Mas onde moram aqueles que construíram todos os edifícios centrais?
O último trem para o Jaçanã não esperou Adoniram e Criolo não encontrou o amor na cidade cheia de almas tão vazias.
Tom Zé viu a solidão aglomerada entre os carros e as chaminés de feias fumaças, as mesmas fumaças que Caetano reclamou por apagarem as estrelas e deixarem o céu escuro como o asfalto por onde caminha um coração ferido por metro quadrado ao som do Mano Brown.
Ah, São Paulo…
Por que insistimos com você?
Por que somos teimosos e não desistimos?
Porque São Paulo também é a terra da teimosia dos que lutam.
Aqui há histórias nem sempre contadas, que nos perseguem e nos movem
Os Queixadas de Perus lutaram bravamente, por anos a fio. Trabalhadores e trabalhadoras que não aceitaram a injustiça e nos deixaram como legado uma das maiores greves da história.
O teimoso Luis Gama não aceitou os limites da sua época. Ex-escravizado aprendeu a ler, se libertou e virou advogado.
Sua obstinação libertou centenas de pessoas da escravidão numa luta insistente e dura travada nas cortes dos brancos escravocratas.
Quando morreu, São Paulo testemunhou o maior cortejo já visto em suas ruas.
Carolina Maria de Jesus fez da sua teimosia em escrever uma forma de arte. Com estilo seco, poético e favelado, lançou livros, gravou músicas e até hoje sua voz ecoa. Ela também não aceitou o esquecimento que a cidade planejou para ela.
E nem nós aceitaremos
Elegemos Erundina, nossa primeira prefeita mulher, nordestina e socialista! Na última eleição elegemos a primeira deputada federal indígena da nossa história: Sonia Guajajara! E também elegemos Erika Hilton, primeira travesti preta deputada federal! Cada vez mais vozes negras e periféricas ecoam pela cidade. Hoje há quilombos por todos os lugares, nas lajes e escolas de samba, das periferias até as câmaras! E podem ter certeza: Teremos muito mais!
Mais uma vez os tambores tocam.
Estamos construindo um novo capítulo dessa história,
onde estará escrito que um movimento de sem tetos,
que ocupou terrenos vazios e abriu portas para milhares de famílias,
agora ousa assumir o protagonismo na maior cidade do Brasil
acendendo a chama da esperança de milhões de lutadores,
Somos um povo sem medo de lutar e cheio da teimosia que nos trouxe até aqui.
Sonhamos com a liberdade de um pássaro que nunca voa sozinho
e encontramos em cada quebrada da cidade
a força necessária para mais uma vez virarmos esse jogo.
Vamos juntos pelas periferias!
Por uma São Paulo viva, diversa e do povo!
Por justiça e pelo direito de viver e de sonhar!
Pelo fim da violência contra o povo negro!
Por uma Revolução Solidária em São Paulo!